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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

UM LAR CENTRALIZADO EM CRISTO - Jay E. Adams


É possível ter um lar centralizado em Cristo no mundo atual de problemas e pecado? Se você é crente deve estar interessado nesse problema. Você de estar preocupado porque reconhece que seu lar deixa muito a desejar quanto a essa descrição. Se isso é verdade, de maneira alguma é verdade exclusiva a respeito de você e de seu lar. Você está em companhia de muitos outros crentes que, em seus momentos de fraqueza, lhe dirão que também estão enfrentando as mesmas dificuldades. Não vamos nos enganar a nós mesmos. Em sua maioria, os lares cristãos ficam lamentavelmente aquém dos padrões bíblicos; e todos sabemos muito bem disso. Bem, então talvez devamos começar fazendo esta pergunta: qual a aparência de um verdadeiro lar cristão? Será um lugar idílico onde reinam, continuamente, a paz e o silêncio, a tranquilidade e a alegria? Certamente que não! O primeiro e mais importante fato a recordar sobre um verdadeiro lar cristão é que ali vive pecadores.
    A ideia de que um lar cristão é um lugar perfeito ou quase perfeito decididamente não é bíblia. No lar, os pais fracassam e muitas vezes fracassam lamentavelmente. Falham um em relação ao outro, falham em relação aos seu filhos e obviamente falham em relação a Deus. Os filhos também falham. Trazem boletins escolares cheios de notas baixas, fazem pirraça no supermercado e tentam fazer os caroços do feijão rolar pela faca quando o pastor é convidado para jantar. Maridos e esposas discutem, fica irritados um com o outro e, ás vezes, têm desentendimentos sérios. É claro, há também resultados positivos; mas o que quero resaltar aqui é que as condições frequentemente estão longe de ser ideias. Estas é uma imagem realista de um verdadeiro La cristão.
   Talvez você esteja imaginando se há alguma diferença entre essa descrição e a da casa ao lado, onde ninguém professa ter fé em Jesus Cristo. Você pode estar pensando: Por que  ele descreveu um verdadeiro lar cristão nesses termos? A resposta é simples: é exatamente isso que toda a Bíblia nos dá razão de esperar entre pessoas convertidas, mas ainda imperfeitas. Na verdade, toda a Bíblia trata, do princípio ao fim, de como Cristo salva os homens de seu pecado. A salvação é completa; envolve justificação, santificação e glorificação e glorificação. Pela graça, por meio da fé, Deus Justifica os crentes num ato instantâneo. Isso quer dizer que Cristo morreu pelo homem para que a penalidade de seus pecados fosse paga e a Sua justiça imputada aos homens. No instante em que creem, os crentes são declarados justos perante Deus. Uma vez justificados, Cristo os salva do poder de seus pecados, através do processo vitalício da santificação. Na santificação, os crente são transformados pouco a pouco à imagem de Jesus Cristo. Esse processo vitalício nunca acaba, e o objetivo final só é alcançado com a morte. Ao morrer, os crentes são glorificados; então tornam-se perfeitos pelas primeira vez. Mas durante esta vida terrena, os crentes continuam a pecar.
“Mas como a sua descrição do lar difere da descrição da família descrente, que mora ao lado?”, você insistirá. Essa pergunta precisa ser respondida. E na resposta a essa pergunta está a mensagem desse livro.
   Um verdadeiro lar cristão é um lugar onde vivem pecadores; mas é, também, um lugar onde as pessoas admitem esse fato e compreendem o problema, sabem qual a sua solução e, como resultado, crescem na graça. Vamos examinar em maiores detalhes as três diferenças significativas que tornam a situação completamente diferente.

1-  Os crentes admitem seus pecados. Pelo fato de saberem que a Bíblia diz que nenhum crente jamais é perfeito durante esta vida (cf. 1 João 1.8-10), os crentes podem reconhecer esse fato e, a tempo, aprender a antecipar e a se preparar para o pecado. Eles, entre todas as pessoas, jamais deveriam recorrer a racionalizações, desculpas ou transferência de culpa (embora, é claro, como pecadores às vezes o façam) para tentar diminuir a importância de seus pecados. Não precisam encobrir coisa alguma, pois todos os crentes sabem que todos os crentes pecam. Pode haver, portanto, um certo grau de franqueza, honestidade e flexibilidade nos relacionamentos que os crentes mantêm uns com os outros, especialmente no lar. Não estou sugerindo, de maneira alguma, que podemos ser flexíveis com o pecado; muito pelo contrário. O que estou tentando, é que os crentes não precisam perder horas de esforço inútil, tentando encobrir seus rastros de pecado. Não precisam inventar meios de enganar os vizinhos, fazendo-os crer que são expressões da mais perfeita humanidade. Podem admitir livremente aquilo que sabem ser verdade; que foram incapazes de cumprir a vontade de Deus. Com a liberdade de admitir a verdade vem a possibilidade de arrependimento, e com o arrependimento eles podem esperar o perdão e a ajuda de Deus e um do outro. Os crentes podem, como resultado disso, escapar rapidamente a padrões pecaminosos de vida. Podem concentrar seu tempo e suas energias no esforço de substituir os padrões pecaminosos por padrões bíblicos de vida. Ao invés de perder tempo minimizando ou negando o fato do pecado, os crentes podem se concentrar em tratar do pecado.
   Os pais certamente podem evitar muito sofrimento desnecessário na criação de seus filhos quando, de maneira natural (ao invés de ficarem falsamente chocados a respeito), esperam que seus filhos façam coisas erradas em casa, na escola e em público. Não há, portanto necessidade de sujeitar seus filhos a uma disciplina excessiva e imprópria, ou à raiva excessiva que às vezes resulta do sentimento de vergonha que os pais tem. Uma vez preparados para admitir que a doutrina bíblica do pecado original, além de ser verdade em teoria é um princípio operativo na vida de Joãozinho e Mariazinha, os pais podem deixar de lado as tensões e tratar o problema de maneira apropriada (biblicamente). Novamente, isso não significa que desculparão ou ignorarão comportamento pecaminoso em seus filhos, ou que deixarão de se preocupar com isso, por ser algo inevitável, sobre o que nada pode ser feito. Não, nada disso. Pelo contrário, reconhecerão o pecado como ele realmente é e irão tratá-lo de maneira bíblica. Tudo isso nos leva à segunda diferença.

2-Os crentes sabem o que fazer com seus pecados. Por terem a Bíblia como seu padrão de fé e prática, além de saberem por que ocorrem problemas em casa, os crentes também sabem o que fazer com eles. Assim, o verdadeiro lar cristão difere da casa do vizinho porque pode usar preceitos e exemplos bíblicos com sucesso, para tratar e resolver toda e qualquer ocorrência de pecado. E essa é uma diferença muito significativa. A Bíblia não se limita a fornecer orientação sobre o que fazer quando um ou mais membros da família pecam; vai além disso e mostra o que fazer para ter certeza de que tal fracasso não se repetirá no futuro. Já que este livro é amplamente dedicado a considerações de muitos dos problemas mas comuns, encontrados nos lares cristãos, não me estenderei neste ponto, a esta altura.
3-Os crentes abandonam seu pecados. Onde há vida espiritual, há também crescimento espiritual. Crente algum pode permanecer o mesmo ontem, hoje e amanhã. Uma pressuposição fundamental da fé cristã é que haverá progresso, partindo do pecado e indo em direção a justiça. Onde houver estudo bíblico, oração, testemunho e a comunhão dos santos, o Espírito Santo de Deus estará operando para produzir o Seu fruto. Esse fruto é justiça.
   O lar cristão, portanto, é um lugar onde pessoas pecaminosas enfrentam os problemas de um mundo pecaminoso. Porém, enfrentam-nos junto com Deus e seus recursos, os quais estão todos centralizados em Cristo (Colossenses 2.3). São pecadoras as pessoas que vivem no lar cristão, mas o Salvador sem pecado vive ali também. E é isso que faz a diferença!
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Material extraído do livro: A VIDA CRISTÃ NO LAR - ED. FIEL

ESTUDOS NO BREVE CATECISMO DE WESTMINSTER, Pergunta 5 - Por: Rev. Onézio Figueiredo


 
          DEUS ÚNICO
Pergunta 5. “Há mais de um Deus?”
Resposta: “Há um só Deus, o Deus vivo e verdadeiro.( Dt 6.4; Jr 10.10”).
 
   A Bíblia, no estágio final da revelação, desconhece a existência de outros deuses, a não ser a Trindade, união absolutamente, igualitária e consensual em essência, natureza e objetivos do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Israel, inicialmente, e a Igreja, posteriormente, não se apropriaram do conhecimento de Deus por via racional, por instintos místicos ou por necessidade psicológica de sublimação do ser e eternização da existência. O Deus das Escrituras revelou-se a si mesmo, deu-se a conhecer, primeiramente a uma nação limitada racial, geográfica e culturalmente, os judeus; depois, em Cristo Jesus, o Filho, humanizou-se, universalizou-se, mostrou-se a todas as raças, viabilizando-lhe a adoração em todos os lugares, por qualquer indivíduo de qualquer etnia. O Deus dos cristãos, encarnado em Cristo, único, universal e onisciente, Senhor e Salvador, habita a Igreja e tabernacula com e em cada regenerado. O cristianismo, como fazia o judaísmo, repudia o politeísmo com sua consequente polilatria por meio de ícones físicos ou imaginários.
 
   Não se deve confundir o monoteísmo israelita com o de alguns povos, que adoravam um suposto “deus supremo”, chefe de um panteon composto de inumeráveis divindades subalternas e auxiliares. Houve uma monolatria egípcia no tempo de Akhenaten( XVII dinastia),caracterizada pela adoração do “deus único”, Aten, disco solar, ou “Tehen-Aten”, raio solar. Embora não lhe fosse permitida a feitura de imagens, o monoteísmo egípcio não passava de monolatria. Era apenas a exclusividade idolátrica de uma divindade material, um culto monolátrico grosseiro. A monolatria de Akhenaten, na verdade, não ia além de um jogo político de manipulação de massas populares, pois a centralização do culto no único deus da preferência palaciana, facilitava o controle político dos vários seguimentos sociais. A fé exclusiva no deus oficial e nacional promovia a unidade administrativa da coroa e transferia a obediência devida à divindade para o faraó. A distância que separava a adoração de um deus nacional à prestada ao próprio rei era curtíssima, e frequentemente acontecia, quer por ordem natural quer por imposição palaciana. 
 
   O monoteísmo de Israel jamais foi iconolâtrico, pois se mantinha na esfera espiritual sem nenhum vínculo panteístico ou animístico. Por outro lado, como já dissemos, o Deus dos judeus lhe foi revelado. E a revelação independia do misticismo popular ou do credismo erudito. Muitas vezes Deus agiu reveladoramente contra a vontade do povo e até mesmo com a sistemática oposição dos religiosos. Monoteísmo, sim; monolatria de um deus único por meio de símbolos visíveis e imagens representativas, nunca. Por outro lado, Javé não é chefe ou cabeça de um panteon de semideuses, embora tenha a seu serviço um séquito de anjos; isto, porém, não significa henoteismo, pois os seres angélicos foram por ele criados, e lhe são submissos servos, especialmente no ministério da comunicação. As Escrituras, pois, sustentam, sem reservas e concessões, a existência de uma única divindade operante nos céus e na terra, autora, regedora e mantenedora da criação, redentora dos eleitos e auto-reveladora em Cristo Jesus. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são um só Deus. Não há entre as pessoas trinitárias contrastes, conflitos ou diferenças ideológicas, pois são absolutamente coiguais, consensuais em santidade, poder, soberania, justiça, bondade, amor e sabedoria. Há três pessoas distintas na divindade, mas não há três deuses. Há um só Deus, trino, onisciente, onipotente, onipresente, Criador, Salvador, Mantenedor e Redentor.

Deus vivo e verdadeiro
 
 
A Bíblia nega peremptoriamente a existência real de qualquer divindade além, acima ou abaixo de Javé tanto na ordem natural (baixo na terra) como na espiritual superior (cima, nos céus), na espiritual inferior ( nas águas debaixo da terra). Destes respectivos universos( cósmico, espiritual superior e espiritual inferior) o homem estava, e ainda está, retirando imagens de deuses imaginários e, portanto, falsos. Contra tais idolatrias, iconificadas ou não, o Deus verdadeiro e vivo se levanta veementemente, porque adorar outro deus, que não seja o verdadeiramente real, atuante na criação, no governo do universo, na história da humanidade e na redenção, não passa de adultério espiritual, uma afronta ao Deus vivo e verdadeiro. Os ídolos são inúteis, despidos de qualquer vitalidade, produtos da criação humana( Ex 20.4; Dt 4. 15-24; 13.1-5; Is 40.18-20; 44.9-20; Sl 115.1-8).

sábado, 22 de setembro de 2012

Música - Por: Mark Dever



Ora, por que escrevemos sobre “Música”? Por que não usamos uma terminologia mais santificada e o chamamos de “adoração”? Afinal de contas, é comum hoje falarmos em música, cânticos e adoração como palavras intercambiáveis. Primeiramente, adoramos. Depois, ouvimos o sermão.


Queremos desafiar essa suposição. A música no contexto do ajuntamento da igreja é somente um subconjunto da adoração corporativa. Ouvir a pregação da Palavra de Deus é uma das maneiras mais importantes de adorarmos juntos a Deus. De fato, é a única maneira pela qual podemos aprender como adorá-Lo de modo aceitável.1 Orar a Palavra de Deus, ouvi-la em público e vê-la nas ordenanças também são aspectos importantes da adoração. Contudo, falando de modo mais amplo, a adoração é uma vida completamente orientada no sentido de envolver-se com Deus, nos termos que Ele propõe e das maneiras que Ele provê.2 Nosso culto racional, a adoração exposta no Novo Testamento, consiste em oferecer a Deus todo o nosso ser como sacrifício vivo, santo e agradável a Ele (Rm 12.1-2; cf. também 1Co 10.31; Cl 3.17). Portanto, a música é um subconjunto da adoração que envolve toda a nossa vida.

Esta reflexão nos lembra que nossa audiência, na adoração corporativa, não são as pessoas.3 A adoração corporativa não consiste em agradar as pessoas, quer a nós mesmos, quer a congregação, quer os incrédulos interessados. A adoração no ajuntamento coletivo é uma renovação de nossa aliança com Deus, por nos encontrarmos e nos relacionarmos com Ele nos termos que Ele prescreveu.4 Fazemos isso de modo específico ao ouvirmos a sua Palavra e atentarmos a ela, confessando nossa pecaminosidade e dependência dEle, agradecendo-Lhe por sua bondade para conosco, apresentando-Lhe nossos pedidos, confessando a sua verdade e erguendo-Lhe nossa voz e instrumentos em resposta e de acordo com a maneira como Ele se revela em sua Palavra.5

Com esse pano de fundo, eis algumas sugestões práticas que podem nos ajudar a glorificar a Deus e edificar uns aos outros no que concerne à música na adoração corporativa.

O canto congregacional

Cantar o evangelho juntos, como uma igreja integrada, forja a unidade em torno da doutrina e prática distintivamente cristãs. Nossas canções congregacionais funcionam como credos devocionais. Elas nos dão linguagem e oportunidade de encorajar uns aos outros na Palavra e convocar uns aos outros a louvar nosso único Salvador. Uma das funções mais importantes do canto congregacional é que ele ressalta a natureza corporativa da igreja e do ministério mútuo que nos edifica na unidade. Uma das razões por que nos reunimos todas as semanas é nos recordarmos que não estamos sozinhos em nossa confissão de Jesus Cristo e nossa convicção das verdades espirituais que sustentamos com tanta apreciação.

Que bênção é ouvir todos os membros da igreja cantando juntos, com todo o seu coração. Quando ouvimos os outros cantando as mesmas palavras, todos juntos, tanto há uma melodia comum como uma harmonia diversa que expressa a unidade e a diversidade do corpo da igreja local, de um modo que nos estimula a prosseguirmos juntos. Em nossa cultura excessivamente egoísta, o canto congregacional é um dos meios mais visíveis que estimulam uma ênfase especificamente corporativa em nossa adoração e vida como igreja local.

Outra função importante do canto congregacional é que ele ressalta a natureza participativa da adoração por meio da música. De um modo geral, a adoração é algo que não podemos fazer como espectadores. Romanos 12.1-2 retrata a adoração como algo ativo. Também é interessante observar que não temos nenhum exemplo de coros de igreja no Novo Testamento — a Bíblia nunca apresenta os crentes do Novo Testamento realizando uma adoração musical em que alguns crentes representavam os demais, por meio do canto realizado por uma pessoa ou um grupo. Pelo contrário, a adoração por meio da música é participativa — toda a igreja participa corporativamente da adoração a Deus, com um só coração e voz.

A Bíblia certamente nos convida a ouvir a Palavra de Deus e a responder-lhe. Mas esse tipo de ouvir é uma resposta específica a um método de comunicação ordenado por Deus — a pregação. No que diz respeito à adoração na forma de música, a Bíblia nos mostra os crentes se envolvendo, eles mesmos, em adoração — todos juntos. Isto não significa que solos e músicas especiais são necessariamente errados. Também não estamos negando que solos e músicas especiais podem comover espiritualmente aqueles que os ouvem. A questão é que tipo de adoração musical corporativa é apresentada como modelo no Novo Testamento e o que afirmamos sobre a adoração musical coletiva, se muitas de nossas canções são tocadas e cantadas por poucos, e não são todos que participam delas.

Uma dieta regular de apresentações de solistas e coros pode até causar o efeito involuntário de prejudicar a natureza participativa e corporativa de nossa música. As pessoas podem vir, gradualmente, a pensar na adoração em termos de observação passiva; e esse não é um modelo apresentado no Novo Testamento. Essa dieta pode também começar a obscurecer a linha de separação entre adoração e entretenimento, especialmente numa cultura encharcada por televisão como a nossa, na qual uma das mais insidiosas expectativas é ser entretido. É claro que esse obscurecimento não é algo proposital. Mas, no decorrer do tempo, o separar os “músicos, solistas ou coristas” do restante da congregação pode mudar sutilmente o foco de nossa atenção, de Deus para os músicos e seus talentos. E essa mudança é revelada por meio do aplaudir no final de uma apresentação. Quem é o beneficiário dos aplausos?

Se o que fazemos aos domingos de manhã é o culto público, então faz todo sentido que devemos ter preferência deliberada pelo canto congregacional — o canto que envolve a participação ativa de toda a congregação.

Quando cantamos juntos louvores a Deus, estamos reconhecendo a natureza corporativa da vida confessional da igreja. Ou seja, estamos afirmando corporativamente que confessamos a doutrina cristã e experimentamos a vida cristã junto com a nossa comunidade da aliança. Portanto, o canto congregacional é aplicável tanto ao aspecto corporativo como ao participativo de nossa adoração coletiva regular. Ele nos mantém afastados da armadilha do entretenimento por envolver todo os cristãos no louvor ativo a Deus, respondendo vocalmente à sua bondade e graça, com louvor e ação de graças audíveis.

Bem, agora que sugerimos o canto congregacional como uma implicação da adoração corporativa na forma de música, seria proveitoso recordar três diretrizes para o canto congregacional.

Público, e não privativo. Muitos líderes de louvor encorajam os membros (por palavras ou por atos) a fecharem os olhos em busca de uma intimidade emocional com Deus, no contexto da reunião corporativa. Ora, ninguém que tenha bom senso argumentaria que fechar os olhos durante a adoração corporativa é errado. E muitos fecham os olhos durante a adoração corporativa apenas para assimilar mais plenamente o som da canção. Mas estamos errados ao encorajar as pessoas a pensarem na adoração corporativa em termos de nos fecharmos para o restante da igreja e desfrutarmos de uma experiência emocional privativa com Deus.

Participei de um culto em que o líder de louvor começou a chorar de modo incontrolável na plataforma, depois de liderar uma canção. Isso foi um exemplo saudável de quebrantamento? Talvez. Não tenho dúvida de que ele tencionava que fosse. Não estamos questionando a pureza de seu coração, e sim a sabedoria de seu comportamento público. Por meio de seu exemplo, ele estava ensinando às pessoas que a experiência emocional privativa, embora realizada em frente de toda a igreja, é a expressão final da adoração (corporativa). Isso não é verdade, de modo nenhum!

O canto congregacional é uma expressão de unidade e harmonia da congregação reunida. Tornar privativa a adoração corporativa destrói este o propósito desta e confunde a verdadeira adoração com a emoção particular. A reunião de adoração coletiva é pública; devemos experimentá-la cientes de que somos um corpo. Muito do poder de edificação do canto congregacional procede realmente de desfrutarmos a presença de nossos irmãos adoradores. Se isso não fosse verdade, por que outra razão nos ajuntaríamos? Logo, é melhor não tornarmos privativo aquilo que Deus determinou que seria público.

Deve ser teologicamente rico. Em sua Palavra, Deus nos deu tantas coisas sobre as quais devemos nos sentir encorajados! Devemos usar o rico estoque das Escrituras para nos dar boas palavras para falarmos em nosso louvor a Deus, para recordar-nos as perfeições de seu caráter e a suficiência da obra de Cristo. Queremos cantar canções que elevem nosso ponto vista sobre Deus, que O apresentem em toda a sua graça e glória. Queremos entoar canções repletas de teologia que nos façam pensar sobre as profundezas do caráter de Deus, as nuanças de sua graça e as implicações de seu evangelho; que nos ensinam a doutrina bíblica que salva e transforma. No aspecto negativo, queremos evitar canções que nos estimulam a pensar sobre a nossa própria experiência emocional subjetiva, mais do que sobre as verdades objetivas do caráter de Deus e as implicações da cruz. Também queremos evitar repetições desnecessárias de frases proferidas à semelhança de mantras, como se o procurar um ápice emocional fosse a mais pura forma de adoração.

Observe a seguinte letra:

Quem é Este, na manjedoura,

A cujos pés os pastores caem?

Quem é Este, em profunda aflição,

Está jejuando no deserto?


É o Senhor! Maravilhosa história!

É o Senhor! O Rei da glória!

Humildes, a seus pés nos curvamos,

Corai-O! Coroai-O, Senhor de todos!


Quem é Este que pessoas bendizem

Por suas palavras de amabilidade?

Quem é Este ao qual são trazidos

Todos os enfermos e entristecidos?


Quem é Este que está de pé e chora

Ante o sepulcro onde Lázaro dorme?

Quem é Este que a multidão reunida

Saúda com canto vibrante e triunfal?


Oh! À meia-noite, quem é Este

Que ora no escuro Getsêmani?

Quem é Este que naquela cruz

Morre em aflição e agonia?


Quem é Este que do sepulcro

Vem para curar, ajudar e salvar?

Quem é Este que de seu trono

Governa sozinho todo o mundo?7


Este hino inclui referência somente a uma Pessoa. Mas, no coro há uma referência ao plural (nos curvamos); e isso diz respeito a nossa adoração a Deus, reconhecendo o seu caráter como Rei.8 Todo o hino se centraliza em Deus, na pessoa de Cristo. E deve ser observado o senso de movimento e progresso — a letra nos leva da manjedoura ao trono de Cristo. É uma história musical e meditativa sobre a vida de Cristo, uma história que nos inspira a adorá-Lo como Ele é apresentado na Bíblia. E a música é meditativa, complementando a natureza reverente da letra. Esses são os sinais característicos de boas canções de adoração, sejam hinos, sejam cânticos: exatidão bíblica, centralidade em Deus, progressão histórica e/ou teológica, ausência de pronomes na primeira pessoa do singular e música que complementa o tom da letra.

Deve ser espiritualmente encorajador. O resultado da riqueza teológica sempre será exatidão crescente na adoração a Deus, conforme Ele realmente é; essa exatidão, por sua vez, resultará em contínuo encorajamento espiritual para nós. Nossa esperança está no caráter de Deus e na verdade de seu evangelho! Na adoração musical corporativa, somos chamados a ensinar uns aos outros a louvar a Deus por seu glorioso caráter e suas obras. Estamos expressando de modo audível a unidade e a harmonia da igreja, bem como a natureza corporativa da vida cristã confessional.9 Estamos encorajando uns aos outros, por meio do vigor de nossa voz, afirmando que não estamos sozinhos em nossa confissão e que todos os outros que cantam estão afirmando a verdade e a importância das palavras cantadas. Quanto mais pessoas houver, melhor será! Esse tipo de canto congregacional é um encorajamento para a nossa alma, recordando-nos a comunhão e a unidade nas verdades que cantamos. O que desejamos estimular nos outros é uma prioridade e uma ênfase concernentes ao canto congregacional, tanto em unidade como em harmonia, de modo que Deus seja honrado por nossa participação ativa e corporativa na adoração musical, e nós ouçamos uns aos outros, e sejamos edificados.
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Traduzido por: Wellington Ferreira

Revisão: Franklin Ferreira e Tiago Santos

Copyright: © Editora FIEL 2009.

Retirado do livro: Deliberdamente Igreja –1ª Edição, Cap. 12 – São José dos Campos, SP. Editora Fiel, 2009.

ESTUDOS NO BREVE CATECISMO DE WESTMINSTER, Pergunta 4 - Por: Rev. Onézio Figueiredo


                DEUS


Pergunta 4: "O que é Deus?"

Resposta: "Deus é espírito( Jo 4.24), infinito, eterno e imutável em seu ser(Sl
90..2; Ml 3.6; Tg 1.17; I Rs 8.27; Jr 23.24; Is 40.22), sabedoria( Sl 147.5; Rm 16.27),
poder( Gn 17.1; Ap 19.6), santidade( Is 57.15; Jo 17.11; Ap 4.8), justiça( Dt 32.4),
bondade( Sl 100.5; Rm 2.4) e verdade( Ex 34.6; Sl 117.2)."


Deus é espírito

Esta declaração significa: a- Deus é imaterial, completamente
distinto de qualquer ser biológico, sem corpo físico; não se funde e nem se confunde com a
natureza. Nenhum ícone retirado da ordem natural pode representar a divindade, que
pertence a outro universo além, acima e incomparavelmente diverso do nosso. O Deus
transcendente, no entanto, se fez imanente, penetrou o material ao encarnar-se em Cristo
Jesus pelo qual ingressou objetiva e definitivamente na humanidade. Deus em Cristo
revelou-se plenamente e, embora tenha se tornado verdadeiramente homem, não deixou de
ser verdadeiramente Deus, conservando a plena e natural espiritualidade. A espiritualidade
do regenerado é procedente, por derivação, do Regenerador, fonte e origem do espiritual.
Deus é Espírito vivificante. O homem redimido é espírito vivificado. A diferença, pois,
entre a criatura e o Criador ou entre o salvo e o Salvador é imensurável. O contado entre
Deus, um ser genuinamente espiritual, e o homem, espiritualizado por criação e por
regeneração, dar-se-á sempre por iniciativa divina, que se efetiva concretamente pela
encarnação do Filho e pela palavra das Escrituras e pelo testemunho interno do Espírito
Santo.

Deus é infinito e eterno. 

Deus é soberanamente ilimitado em seu amor, poder,
majestade, sabedoria, santidade, justiça e verdade. Todos os seus juízos, atos e
determinações são absolutamente perfeitos. Tudo que ele é e faz depende exclusivamente
de si mesmo. É auto-existente. Não se limita ao tempo e ao espaço, pois é de natureza
eterna, vive num universo ilimitado e atemporal. Todos os demais seres, espirituais e
materiais, foram criados por ele. A eternidade, portanto, é um atributo de Deus e uma
concessão ou dádiva de seu beneplácito a anjos e homens. A nossa limitação e finitude não
nos permitem entender a infinitude de Deus. Ele, porém, não teve princípio e não terá fim,
Criador não criado. Revela-se a nós, míseros mortais, na medida da nossa finitude, segundo
a fé que nos concede e conforme a nossa necessidade. Não precisamos e não devemos
saber mais do que nos foi revelado a seu respeito no atual estágio de nosso existência.

Deus é imutável em:

a- Seu ser. Deus é absolutamente perfeito. O absoluto em perfeição não tem
como mudar nem para melhor e nem para pior. Não se pode falar de mutabilidade,
instabilidade ou variabilidade do ser divino. Também não se há de mencionar o seu
"perfeccionismo". Ele não é um artista, que luta para realizar o melhor possível, o que mais
se aproxime da realidade e da idealidade. É um ser completamente perfeito e bom; eis
porque somente cria seres e coisas perfeitas e boas. O ser de Deus não muda, pois não se
pode aperfeiçoar a perfeição absoluta. Ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente. O ser
humano muda, passando por fases biológicas, psicológicas, sentimentais e mentais do
nascimento à morte. A nossa mutabilidade, temporalidade e fragilidade dificultam o nosso
entendimento de um ser imutável, perfeito, não sujeito às transformações próprios dos
seres naturais e morais.

b- Sua sabedoria. A nossa sabedoria, sendo restrita e contingencial, pode ser
aperfeiçoada, adequada às circunstâncias, modificada por novas informações e aprofundada
por técnicas atuais e atualizantes. Deus, entretanto, é onisciente, sabe todos as coisas no
campo físico, matemático, filosófico, sociológico, psicológico, antropológico, astronáutico,
teológico e outros. Deus não é simples depositário ou arquivo de informações à semelhança
de uma enciclopédia geral; ele é a própria sabedoria, a fonte original de toda inteligência,
de toda ciência, de toda inventividade, de toda criatividade, de todas as artes. A sua
onisciência vai muito além do que nos é permitido saber por conhecimento empírico e por
revelação. A nossa mente capta o mínimo das leis, dos fatos e dos fenômenos naturais; do
insondável universo espiritual Deus nos revela apenas o suficiente à nossa redenção e
conduta.

c- Seu poder. Os homens podem ser investidos de algum tipo de poder,
exercerem alguma autoridade delegada, mas Deus é poderoso não por investidura ou por
delegação, mas por auto-afirmação e por sua próprio natureza. Poder não lhe é um título,
mas um atributo. Ele é o poder dos poderes.

d- Seus atributos morais: Santidade, justiça, bondade e verdade. Deus não
é santo por santificação, à semelhança do homem. Sua santidade é componente atributivo e
constitutivo de seu ser em grau absoluto. O mesmo se pode dizer de sua justiça. A bondade
de Deus não é passional; é expressão de seu ser, essencialmente bom. Nele não há conflito
entre o certo e o errado, entre o justo e o injusto, entre o amor e o ódio. Deus é o bem na
expressão exata e final do termo. Deus é a verdade; o Diabo é a mentira. Conhecer e
receber Deus na pessoa de seu Filho, Jesus, é conhecer e receber a verdade.