Páginas

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

ESTUDOS NO BREVE CATECISMO DE WESTMINSTER, Perguntas 2 e 3 - Por: Rev. Onézio Figueiredo

BÍBLIA, MANUAL DO CRENTE



Pergunta 2: "Que regra Deus nos deu para nos dirigir na maneira de o glorificar e gozar?"
Resposta: "A Palavra de Deus, que se acha nas Escrituras do Velho e do Novo Testamentos, é a única regra para nos dirigir na maneira de o glorificar e gozar"( Gl 1.8,9; Lc 16.29,31; II Tm 3.15-17).

Glorificação:


Qualquer ato de glorificação a Deus é uma liturgia, um serviço cúltico ao Criador. O salvo glorifica o Salvador com seus dons, habilidades e talentos nas adorações comunitárias e fora delas. Jamais um redimido se comportará como depredador ou corruptor das ordens sociais, morais e culturais da sociedade. Cristo coloca o salvo no mundo como boa semente, como o fermento da massa nutritiva, como luz para evitar o triunfo das trevas, como arauto anunciador das boas novas do reino do Cordeiro. Os verdadeiros eleitos contribuem, natural e decisivamente, para a existência e a manutenção, ainda, de todos os bens e virtudes no seio da sociedade. Os santos de Deus, na verdade, impedem a total depravação dos sistemas, estruturas e organizações sociais, políticas, econômicas e culturais, embora tal papel não se lhes reconheça e nem se lhes atribua. Por outro lado, os filhos das trevas geram, implantam e divulgam os vícios corruptores dos indivíduos, da família e do estado. Para eles, a eliminação da moralidade, da honra, da decência, da dignidade, da honestidade, da fidelidade e do pudor resultará na plena liberdade, direito que entendem significar liberalidade ilimitada e permissividade sem fronteiras. Um povo composto somente de réprobos não passaria de uma "incivilização", de um inominável caos. Os princípios cristãos são mantidos por cristãos de princípios. A Igreja, como corpo de Cristo, e cada um de seus membros, templos do Espírito Santo, são frutos da obra redentora de Cristo, doutrinados e guiados na terra pelas Escrituras Sagradas, seus normativos parâmetros de fé e de comportamento. Cada crente sincero é uma carta viva de Jesus Cristo de tal modo que sua mente e sua consciência, pela regeneração, harmonizam-se com a vontade de Deus na execução de suas tarefas seculares e espirituais tanto no campo da individualidade como no da coletividade. O salvo é imagem de seu Salvador, sua glória visível e permanente. Os ministros liderantes da comunidade eclesial são respeitáveis e merecedores de respeito enquanto se submeterem, sem restrições, à doutrina e à ética bíblicas. A palavra da Igreja, quando emanada das Escrituras, tem força norteadora e poder autoritativo sobre seus membros e ação missionária no mundo. O povo de Deus não deve impressionar-se com o multitudinismo, característica de um evangelismo de resultados numéricos imediatos e canalizador, supostamente, de bênçãos materiais como saúde, emprego, riquezas e facilidades psicológicas e temporais.

Gozo: O gozo do Servo de Deus Está em:

a- Submeter seus impulsos e desejos sensoriais ao imperativo controlador e santificador da Palavra de Deus. O alimento, o lazer, o trabalho e o sexo são bênçãos divinas para o crente e, exercitadas por este conforme as ordenanças escriturísticas, convertem-se em atos de glorificação ao Criador e de realizações extremamente gozosas.

b- Conviver com o Salvador, que nele habita pelo Espírito Santo, num relacionamento íntimo e permanente. O regenerado é capaz de entrar no seu quarto, fechar a sua porta e, em privativa e profunda comunhão, falar a sós com o seu Senhor e Pai celeste.

c- Viver na fraternidade dos redimidos, a Igreja, como membro e cooperador, segundo os talentos que Deus lhe deu. Na corporalidade eclesial o servo do Senhor se realiza e coopera para realização de seus conservos.

d- Prestar culto a Deus em espírito e em verdade tanto nas adorações comunitárias como nas domésticas. O verdadeiro crente em Jesus Cristo sente prazer indescritível na leitura da Bíblia, nos cânticos espirituais, na oração e na comunhão eucarística. Tal prazer, includente e disciplinador do sensório, supera, e muitíssimo, qualquer gozo concupiscente. O corpo humano, obra do Criador, não é apenas fonte geradora de desejos e impulsos sensoriais, mas, e principalmente, veículo de adoração. Eis porque Paulo ordena, não apenas recomenda, que apresentemos nossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o nosso culto racional( Rm 12.1). O culto, pois, é uma das realizações espirituais mais gozosas para o verdadeiro crente.

e- Vivenciar uma paz interna, dádiva de Cristo, desconhecida dos ímpios. Esta paz constante, mesmo diante de perturbações internas e conflitos externos, de dores e sofrimentos, de incertezas e desesperanças, nos é assegurada e mantida em nosso coração pelo Consolador, que nos foi outorgado e habita em nós, o Espírito Santo.

f- Ser instrumento nas mãos do Criador no trabalho profissional para que, naquilo que depender do servo, o Senhor seja bem servido no serviço ao próximo. A consciência do dever cumprido é tranqüilidade e gozo para o real cristão. Não nos esqueçamos que o escolhido e regenerado em Cristo é instruído e dirigido pelas Palavra de Deus proclamada pela Igreja e aplicada pelo Espírito Santo.






Pergunta 3. "O que as Escrituras principalmente ensinam?"
Resposta: "As Escrituras ensinam, principalmente, o que o homem deve crer a respeito de Deus, e o dever que Deus requer do homem"( Mq 6.8; Jo 20.31; Jo 3.16).

A Bíblia, na verdade, não sistematiza e nem dogmatiza doutrinas e comportamentos. Ela é o registro da revelação de Deus e de sua vontade para com o homem, por ele escolhido e chamado, de maneira assistemática mas vivencial e experiencialmente. Deus entra na história de seu povo e nela intervém pelo poder de sua palavra e por meio de fatos e eventos significativos de consequências duradouras e memoráveis. O que faz na história, também realiza na vida de cada eleito. O predestinado a quem Deus se dirige, com quem se relaciona e interage por meio do Verbo e do Espírito mediante a liturgia do templo, dos sacrifícios, da adoração, do testemunho e do pacto está, e estava, sujeito a erros de percurso e a falhas morais. E as Escrituras o retrata sem retoques, mostrando a dura realidade do homem caído, pecador, diante do Santíssimo Criador. Em matéria de fé e de moral as Escrituras são, para o cristão autêntico, a única palavra normativa, instrutiva e diretiva. A confiabilidade da Bíblia, em termos de revelação, reside:

a- Na autoridade soberana do Deus que nela e por ela se revela.

b- Na Palavra do Pai encarnada no Filho, alvo, objeto, centro, mentor e realizador da revelação.

c- Na obra do Espírito Santo, que esclarece as Escrituras, iluminando cada escolhido para endendê-la, causando-lhe, por outro lado, a dinâmica da obediência e do testemunho. Segundo Paulo, as Escrituras são suficientes, eficientes e necessárias para:
c.a- Comunicar a sabedoria da salvação pela fé em Cristo Jesus ( II Tm 3.15).
c.b- O correto ensino dos fatos revelados e do que se deve crer a respeito de Deus e de suas obras: criadora, redentora e preservadora.
c.c- A correção e a disciplina do crente, quando este se desvia ou desobedece.
c.d- A educação na justiça de Deus, isto é, compreender que Deus é, ao mesmo tempo, puro amor e pura justiça; nele não há injustiça e o que dele procede, mesmo as decisões repreensivas, repressivas e punitivas, são absoluta e indiscutivelmente justas( II Tm 3.16,17). O crente sabe, pelas Escrituras, que é servo de um Senhor extremamente bom, mas também rigorosamente justo. Tudo, porém, para o benefício final dos eleitos. Para o catolicismo, a autoridade última em assuntos de moral e de fé é o Papa que, quando fala da cátedra de Pedro sobre tais matérias é infalível e inerrante, quer sua fala se firme nas Escrituras quer esteja à margem delas ou até contra elas. O protestante reformada tem nas Escrituras sua única regra de fé e de conduta. Ele entende que elas expressam, por revelação e não por conclusões racionais, a vontade do Criador para a sua criatura, do Redentor para o seus redimidos, do Senhor para os seus servos. A Palavra de Deus que criou o universo, igualmente é criadora da Igreja, que dela vive e por ela se orienta, proclama-a e lhe é testemunha pela unidade, pela santidade e pela adoração.

Crença e Obediência

A Palavra de Deus é sempre o instrumento do crer e do obedecer( Jo 17.14,20), pois Bíblia é:

a- O registro da revelação do trino Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, aos seus eleitos. Fora da eleição não há suficiente conhecimento de Deus.

b- O chamado à fé exclusiva em Deus por eleição e graça provenientes da iniciativa divina.

c- O imperativo à obediência. A criatura caída, alienada de seu Criador, é convocada, pela voz das Escrituras, a crer em Deus, a reconciliar-se com ele, a submeter-se à sua amorosa paternidade, a respeitar-lhe as ordenanças, a obedecer-lhe as determinações. Crença e obediência são virtudes conjugadas e complementares. Quem não obedece, mente ao afirmar que crê. Esclarecedoras são as afirmações de Jesus: "Qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe"( Mc 3.35). "Quem é de Deus ouve as palavras Deus; por isso não me dais ouvidos, porque não sois de Deus"( Jo 8.47). A verbalização litúrgica é importante tanto quando a pregação da Palavra, mas tudo será inócuo sem a verdadeira fé, sem a correta interpretação das Escrituras, sem a irrestrita obediência aos mandamentos e preceitos escriturísticos, sem a unidade fraternal dos irmãos em Cristo Jesus.

A palavra de Deus, agindo nos corações regenerados, promove-lhes a santificação, isto é, a cada vez maior identificação do salvo com o Salvador. A Bíblia nos leva ao necessário conhecimento de Deus e, conseqüentemente, ao entendimento de nós mesmos: Quem somos, para que existimos e para onde vamos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário