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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A História Religiosa da Humanidade



Por

Dr. Marryn Lloyd Jones

Introdução


É com muita satisfação que trago a você esse resumo do primeiro sermão de uma série de cinco mensagens discorridas na segunda metade do capítulo 1 de Romanos, (originalmente pregadas na Inglaterra em março de 1941” reunidos no livro: A SITUAÇÃO CRITICA DO HOMEM E O PODER DE DEUS, do Dr. Martyn Lloyd-Jones.

Nestas mensagens o Dr. Lloyd-Jones desnuda as pretensões dos que rejeitam o cristianismo bíblico ou tentam modificá-lo. Escrito contra o pano de fundo da guerra, Lloyd-Jones repudia a lamentável ignorância dos que afirmam a realidade da bondade humana e que vêem a guerra como uma aberração do nosso estado natural. Nesse primeiro capítulo o Doutor discorda inteiramente da história da escola das religiões, e de toda e qualquer idéia de que o homem está ficando melhor. O autor examina Romanos e a história humana e afirma que sua clara mensagem é que estamos em difícil situação espiritual.


A História Religiosa da Humanidade


“Portanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu.”

(Romanos 1.21)


Todos nós estamos familiarizados com os dizeres que nos lembram que às vezes temos que “ser cruéis para sermos bondosos”. Parece-me que esse é o princípio que a Igreja é chamada a pôr em prática no presente, se é que ela há de funcionar verdadeiramente como igreja de Deus na hora de crise e de calamidade. É sempre mais agradável amenizar e confortar do que causar dor e provocar reações desagradáveis. Mas certamente chegou à hora de tratar da situação atual do mundo e considerá-la de maneira radical.

Nada pode ser mais fatal do que a impressão que se tem em geral de que a única tarefa da Igreja é acalmar e confortar os homens e as mulheres que se tornaram infelizes por causa das presentes circunstâncias. O ministério de conforto e consolação é parte integrante da obra da Igreja, mas, se ela dedicar toda a sua energia unicamente a essa tarefa, como em geral fez durante a última guerra,¹ provavelmente emergirá desta presente dificuldade com suas fileiras ainda mais esvaziadas e tendo ainda menor valor para a vida do povo.

Cabe-nos despertar e reaprender que, embora o nosso evangelho é atemporal e imutável, é, não obstante, sempre contemporâneo. Devemos enfrentar a presente situação e temos que dizer ao mundo uma palavra que ninguém mais pode dizer.

Devemos tratar da presente situação como ela é. E é por isso que devemos estar dispostos a “ser cruéis para sermos bondosos”.

A ultima guerra foi considerada como uma espécie de interlúdio no drama da vida, e os homens, não compreendendo que foi na verdade uma parte essencial e inevitável do drama, simplesmente esperaram o fim dela para poderem reassumir sua posição. A nossa atitude não deve ser a de apenas esperarmos o fim da guerra para podermos reassumir as nossas atividades normais. Temos que ser mais ativos do que nunca, e especialmente em nosso pensamento.

A guerra de 1924-1918, como se tem dito,foi considerada como uma estranha e inexplicável pausa na marcha do progresso humano. O progresso continuaria após a guerra. E aqui estamos nós em nossas presentes circunstâncias! Qual será a causa do problema? Certamente só pode ser óbvio, agora, que toda a visão da vida era inteiramente errônea e falsa.

É com a finalidade de expor essa falácia (do progresso humano) e revelar a verdade, que eu chamo a sua atenção para a segunda metade do capítulo da Epístola aos Romanos. Estou ansiosamente desejoso de considerar com vocês a referida passagem, pois ela revela algumas das falácias mais comuns subjacentes ao texto, falácias responsáveis pela falsa visão da vida que tem iludido a humanidade por tanto tempo.

Na esfera da religião, a tendência geral deu surgimento de uma nova ciência – qual seja, o estudo de religiões comparadas, isto surgiu em parte como resultado dos movimento de colonização do século anterior e em parte, também, como resultado dos fatos que vieram à luz em conexão com a obra de várias sociedades missionárias. Aonde quer que os homens iam, descobriam que nativos e selagens tinham, todos, uma ou outra forma de religião. Gradativamente, foram observando essas religiões e tomaram interesse especial por observar o tipo de religião encontrada. Eventualmente, com base nisso tudo, foi proposta uma teoria no sentido de que se deveria ver na história do homem um certo e definido desenvolvimento e evolução, num sentido religioso. Os que pertenciam esta escola diziam que o homem, em seu modelo mais primitivo, acreditava num vago espírito que residia nas árvores, nas rochas e outros objetos – animismo. A seguir vinha uma espécie de magia, cultos etc...até atingir um estagio que pode ser descrito como politeismo.

Tudo isso visava mostrar que, inata no homem, há uma lei que o compele a procurar Deus e a chegar a Ele. Os que sustentavam essa idéia diziam: pôde-se ver claramente um desenvolvimento gradual da idéia de Deus sustentada pelos filhos de Israel.

Essa teoria pressupõe que, por natureza, o homem é uma criatura que está sempre em busca e sedento de conhecimento de Deus e de comunhão com Ele, e que Cristo é o Homem que penetrou mais fundo e subiu mais alto nesse esforço.
Essa é, então, a teoria e idéia sustentada por muitos. Que temos para dizer a isso? Podemos dispor o nosso assunto sob os seguintes ponto:

( i ) É uma idéia que falseia a história bíblica. Diz o apóstolo Paulo que o homem teve, desde o inicio, o conhecimento de Deus, e, se este lhe falta agora, é porque ele o suprimiu deliberadamente e o perdeu. A história do homem com respeito a Deus, segundo o apóstolo, não é a história de um progresso com desenvolvimento e elevação gradativa, mas, antes, uma história de declínio e queda – um retrocesso, uma degeneração.
Lembro a vocês que até Abraão foi criado num estado de idolatria. Até a linhagem especial de Sem se havia deteriorado e havia abandonado este verdadeiro conhecimento de Deus. Em seguida Deus toma Abraão e lhe faz a revelação especial. Esta é transmitida a Isaque e a Jacó, e, depois, aos filhos de Israel. Que foi, porém, que aconteceu com eles? Basta vocês lerem a história deles para verem que sempre houve neles a mesma tendência que se manifesta nos outros ramos da raça humana. Nenhum desenvolvimento, mas definida retrogressão. Se isso aconteceu com esse povo especial, é obviamente ridículo afirmar que o resto da humanidade estava constantemente buscando e lutando por um conhecimento cada vez mais completo de Deus. Israel não chegou à fé no Deus único devido à sua luta e a seu esforço. Deus se lhe revelou de maneira única.

( ii ) Essa teoria falseia a história do homem subseqüente à história bíblica. Não há nada que seja mais característico da historia da Igreja do que a estranha periodicidade que se vê nos fatos narrados. Num sentido, história da Igreja é uma constante série de períodos alternantes de progresso e declínio, de avivamento espiritual e espiritual apatia. Se a doutrina do progresso e desenvolvimento fosse verdadeira, esperáramos que cada avivamento levasse inevitavelmente a um progresso ainda maior, que os homens, tendo sentido o estímulo e o ímpeto de um grande período de benção, redobrassem seu esforços e continuassem a crescendo e se desenvolvendo numa intensidade sempre crescente. Mas não é isso que está acontecendo.

( iii ) Desejo mostrar-lhe que essa teoria inteiramente à parte das provas que eu aduzi, é obviamente falsa, ainda que fosse meramente do ponto de vista do nosso conhecimento da natureza do homem. Quão completamente monstruoso é postular essa idéia de que, por natureza, o homem está imbuído desta sede e deste anseio de conhecer Deus, quando vocês vêem o homem moderno! E o fato é que dentro de nós está a prova final de que o que o apostolo Paulo diz é certo: “A inclinação da carne é inimizade contra Deus” (Romanos 8.7) O homem por natureza, sempre quer romper caminho e ir para longe de Deus, e o apóstolo Paulo nos diz precisa e exatamente por que é assim e como essa tendência se mostra.

Isso se deve, ao espírito de insubordinação inerente à natureza humana: “Tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus”. Observem na história dos filhos de Israel. Apesar de toda a paciência de Deus com eles, e Sua bondade para com eles, constantemente Lhe davam as costas.

E essa é a segunda observação de Paulo: ”Nem lhe deram graças”. E assim é, naturalmente, pela razão expressa no terceiro passo do apóstolo Paulo nesta historiado declínio e queda da humanidade, tendo ela repudiado o conhecimento de Deus. É o orgulho.

“...antes em seu discursos se desvaneceram. Dizendo-se sábios, tornaram-se louco”. Os homens recusam o conhecimento de Deus que lhes é oferecido e dado, rejeitam as estupendas obras de Deus, mas, sentindo falta e necessidade de uma religião, passam a fazer seu próprio deus.

Ser bondoso e indulgente empregando vagas generalizações acerca do homem e do seu desenvolvimento, etc. , e apenas convidá-lo para seguir a Cristo, não basta. O homem precisa ser convencido e tornar convicto do seu pecado. Ele tem que encarar a verdade nua e crua acerca de si mesmo e de sua atitude para com Deus. Somente quando ele se der conta dessa verdade é que estará realmente pronto para crer no evangelho e para ser convertido a Deus.

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NOTAS

1Primeira Guerra Mundial, 1914-1918. Nota do tradutor

FONTE

A SITUAÇÃO CRITICA DO HOMEM E O PODER DE DEUS, D. M. LLOYD-JONES, EDITORA - PES.

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